DONA DE MIM

Chegaram os guardas do tempo
Trouxeram-me o calendário
Apontaram as datas corretas
E apresentaram a idade certa

Primeiro, veio o marido
Depois por dever, filho
Fiquei sem jeito, reação e toda torta 
E os sonhos bateram a cara na porta

Ué, por que vieram agora me buscar?
Um sentido na vida estou a procurar
Crescendo, errando e aprendendo
Experimentando e compreendendo

É tão fácil achar um inimigo
E o raro é encontrar o amigo
Enquanto a insanidade no Mundo explode
Meu Eu faz tudo para se achar como pode

Até lá, vou poetizando sem fim
E talvez, quem sabe assim
Eu poderei ser dona de mim?

J.V.

Março/2014

ESSÊNCIA

Tentem me sufocar sem enredo
Tentem me violentar com o medo
Mostrem quem é que manda
E que a obediência comanda

Deixem-me desnuda e descalça
Exposta à amargura e desgraça
Vamos! Continuem o infinito exaspero
A educar alguém a ser esse ser efêmero

Arranquem o venerável orgulho
Desprezem-me feito um entulho
Usem toda a veemência vocacional
Igual à um discurso vencido de natal

Depois de todo o desgaste intelectual 
Do trabalho disciplinar mental factual
Eis que a liberdade não se tocou
E por fim, a essência se reservou

Então...

Seria uma fase paranoica eloquente?
Onde nada sabemos profundamente?
Voltaríamos à nascença, indefinidos
Alegres, indigentes e desconhecidos?

Afinal, o que é mais importante?
Seguir a vida controladamente
A gente aprisionando a mente
Ou vivê-la essencialmente?

J.V.

Novembro/2013

Memórias - Trajetória Escolar - PARTE 3

São vários professores que passaram pela minha escolarização, mas os que participaram deixando recordações marcantes, infelizmente são poucos.  A maioria das lembranças está difusa ou em branco, justamente por não serem consideradas tão importantes.

O que eu gostei da professora na quarta série foi a amizade além da sala de aula. Não sei exatamente o motivo ou a ocasião, mas um dia ela, eu e uma colega fomos passear no shopping. Conversamos, rimos e tomamos sorvete, logo depois, ela nos deu carona para casa. Outra curiosidade é que no decorrer daquele ano letivo, a convivência na sala de aula foi construtiva. Não compreendia bem se aquilo talvez fosse uma amizade. Hoje, entendo que existe um ser humano por trás da figura de um professor.

No Ensino Fundamental II, uma professora de ciências me cativou pela sua elegância no falar e no andar. Em uma aula, ela nos trouxe imagens de células para serem visualizadas através do retroprojetor, e a sua maneira de ensinar serenamente termos complicados, como ‘organelas celulares’, transmitiu segurança num assunto recheado de incógnitas. Apesar de no dia seguinte, com certeza, ter esquecido todos aqueles nomes complexos.

Saltando para o ensino técnico. Havia uma professora de geociências que além de ensinar de forma interessante, nos provocava no sentido sócio crítico. Comentava sobre a nossa situação, que nos encontrávamos num ambiente privilegiado, sentados naquela cadeira, que tínhamos que valorizar todo o conhecimento que se construía lá, que poderíamos ser alunos excepcionais se nos empenhássemos. Dizia que o nosso cérebro armazena muitas informações, e se soubermos acessá-las, aprenderemos quase tudo o que quisermos. Um dia, ela nos viu estudando para o vestibular, e nos doou as suas apostilas de cursinho. Também estimei outro professor do técnico, porque trazia experiências e histórias de vida durante as aulas que tornavam as aulas mais prazerosas de se ouvirem. 

Finalizando no ensino superior, a querida professora de Zoologia me emocionava com o seu entusiasmo e ao mesmo tempo seriedade naquilo que fazia. Claramente isto influenciou na imagem que tenho de um professor ideal. Já aposentada e com vasta experiência no magistério, nos incentivava a dar aula e nos contava da satisfação que era lecionar em escolas públicas. Segundo ela, a escolha da docência exigia de nós alunos, resistência e não desistência por qualquer bobagem ou falha no percurso. O importante era buscarmos suficiente paixão para lecionar e acreditar na profissão.

J.V.

04/09/2016

FORTALE-SER

Até pelo buraco mais torturante e tristonho
A minha luz sangrará um brilho risonho
Daquela rua cinzenta surgirá um verde vivo
Por que não trazer o Sol para o cego cativo?

Haverá pulso para aguentar tanta zombaria
Um minuto de silêncio sabiamente revelaria
A vida dos desassossegados
Corações desgostosos fadados

Crescemos em meio às impurezas 
Mas sobreviveremos das durezas
Compartilhamos de inférteis solos 
Mas abandonaremos os velhos modos

É difícil acreditar no mundo da inocência
Mas dignificará a semente da experiência 
É irônico duvidar a cura da dor
Mas ao respirar sentimos valor 

Agora não posso e nem vou levar a ânsia
A errônea coletiva maneira da ignorância
E sim florescer no Ser feliz desconhecida
Transparecendo a melancolia reconhecida

J.V.

09/09/2014

Memórias - Trajetória Escolar - PARTE 1

Desde o início, a escrita me fascinou: meu irmão era três anos mais velho e pode experimentar o contato com os símbolos desconhecidos antes de mim e, por consequência, através dele pude conhecer a existência desse novo universo. Meu esforço em querer aprender a ler era tão grande que minha mãe um dia chegou a acreditar que eu estava realmente lendo um cartão do dia das mães de meu irmão, e até perguntou o que estava escrito. Eu, sem saber o que fazer e não querendo decepcioná-la, inventei alguma coisa. A partir de então, meu imaginário foi construindo aos poucos uma visão nobre e importante pela escrita. Saber ler e escrever eram coisas mágicas.

Na época, morava em São Caetano (SP) quando os meus pais me matricularam no ''prezinho'' (pré-escola) e, infelizmente esse período durou pouco. Segundo minha mãe, seis meses. Lembro-me de lá desenhando e brincando apenas, e que criava expectativas boas da professora em relação a mim, e também que era muito comportada. Houve um episódio no último dia, onde minha mãe foi comunicar à professora que eu estava de mudança, a professora lamentou e disse algo semelhante a: ''Ah, a ‘Jaquiqueline’ vai embora, que pena... ''. Não entendia direito qual poderia ser a implicação de um nome ser pronunciado de forma diferente, mas até hoje não me esqueço.

Essa passagem rememorada de minha primeira escolinha é importante, pois, desde minha saída naquele dia, só fui pisar em outra, anos mais tarde, em 1999, com seis anos, já na minha residência atual, em Suzano (SP).

Nesse meio tempo, tive inveja de meu irmão ou de qualquer criança uniformizada que passasse em minha frente. Descobri que ser estudante não era tão simples assim, pois não se tinha lugar para receber todo mundo e eu ficava na expectativa de uma vaga aparecer. Mas não era tão ruim assim dispor de tanto tempo livre, e hoje tenho certeza de que sabendo o privilégio que era só ter que brincar e sonhar teria aproveitado mais.

Provavelmente devo ter enchido muito a paciência de meus pais por não estar ainda em uma escola, e devo ter chorado bastante, perguntando-me: ''Por que eu? O que fiz de errado?''. Inclusive considerava que estava envelhecendo e meu tempo passando rápido, mesmo não tendo a clara noção de causa e efeito da idade. Vendo a minha aflição e para remediar esta situação, minha mãe me deu um caderninho de escrever, apesar de não saber o quê e como iria aprender.

Ela começou a escrever algumas letras e me pedia para reescrevê-las nas linhas debaixo e assim, as letras foram evoluindo para palavras e depois para frases. De fato, ninguém haveria de mensurar a dimensão desse método caseiro por mais inocente que se parecesse. Mas isto me entretivera até começar a primeira série, com um adiantamento de aprendizagem que impressionaria a todos, até a mim.

A jornada começara. Minha mãe me arrumou como uma princesinha e colocou presilhas coloridas por todo o meu cabelo. Estava ansiosa para finalmente me tornar uma ESTUDANTE: estava tudo perfeito! A escola municipal Antonio Marques Figueira era grande, bonita, tinha espaços abertos com árvores, como também locais escuros e cimentados. Era tão grande que só fui descobrir onde era a merenda um ano depois, quando tomei coragem e perguntei para a inspetora sobre um corredor misterioso por onde as crianças entravam correndo. Ela então pegou a minha mão e me levou para o outro lado, também espaçoso e arborizado.

Nessa fase as coisas eram abstratas, diferentes e novas. Lembro-me que fora da sala de aula o tempo de permanência era menor, mas não me importava em voltar e ficar sentada na cadeira da sala, escrevendo ou fazendo algo da lousa. Depois do primeiro dia, voltei para casa com aquela sensação de preenchimento, de que minha vida não seria mais a mesma. Até o gosto do arroz e feijão da janta não parecia o mesmo.

Achava minha primeira professora boazinha, diria ‘’um amor de pessoa’’. Não sei se era só comigo que ela era simpática, afinal foi dela que mais tarde ganhei uma medalha de aluna inteligente (?!...). Uma vez, ela segurou o meu caderno e perguntou se era eu mesma que tinha escrito os textos na folha. Ela me fitou por um instante e elogiou abismada a minha letra. Hoje sei que a facilidade na grafia tem a ver com o caderninho infantil improvisado em casa.

A priori eu gostava de todos, até dos coleguinhas que ‘’não iam com a minha cara’’, pois me beliscavam sem claro motivo. Interagia timidamente do meu jeito estranho, não era conversadora. Uma vez, na reunião de pais, a professora de educação física disse para minha mãe que eu tinha dificuldades de me relacionar. Embora não me importasse tanto com as amizades e sim com os estudos.

Foi o encontro com a leitura um dos eventos mais marcantes. Afinal, poderia orgulhosamente não só rabiscar como também ler o que o meu mundo de criança permitia descobrir. Ganhei meu primeiro livro no final da primeira série: ''O pintinho feio'', e reli incontáveis vezes. Na segunda série, conheci a biblioteca e me apaixonei definitivamente por livros. Teve um que eu li várias vezes: ''A raposa e o rouxinol''. Nossa...como aquela história me emocionava! O último livro, já na quarta série, foi “Harry Potter e A Pedra Filosofal”, e mergulhei de cabeça na história. Como não era um livro tão infantil, demorei na leitura e a tia da biblioteca me deu uma bronca por não respeitar o prazo de devolução. Envergonhada, devolvi sem o terminar e nunca mais retornei. Ah, mesmo assim saudades ficaram!

Nesse momento a escola era divertida. Foi lá também que tive as primeiras aventuras e desventuras. Promoviam excursões, passeios, visitas ao teatro, cinema, em apresentações artísticas, etc., e eu me encantava com este contato com o diverso. Inclusive, também participei de danças e exibições no palco. Fiz amiguinhos que chegaram a almoçar em minha casa e vice-versa, entre outras socializações.

Os trabalhos em grupo eram reforços interessantes para se descobrir tais amizades. Às vezes, entre os meninos e meninas se observava paqueras e paixões pueris, até me pediram em namoro, mas achei a proposta indecorosa e infactível com os meus pensamentos de criança. Chorei também, como no dia em que tropecei e caí de cara com a lama da chuva, ou quando, sem querer sentei na abelha e levei um ferrão bem na coxa, ou ainda quando um colega ‘’japonesinho’’ convidou praticamente a sala inteira para a sua festa de aniversário, menos eu.

As professoras do fundamental do ciclo I eram diferentes de modo geral. Recordo-me de cada uma delas, de alguns nomes (Claudia, Sidneia e Claudineia), seus aspectos e feições. Uma característica comum a todas (ao menos até onde a minha memória alcança), era o convívio harmonioso que mantinham com os alunos. Duas delas foram visitar a minha casa por razões diferentes, e conheceram onde eu morava.

 No final da quarta série, soube que seria a minha última estadia e que todos os alunos deveriam ir para outra escola no ano seguinte, já que a escola tinha apenas o ciclo I. Antes do ocorrido, eu, curiosa, perguntei à professora como poderia ser a futura escola, e lembro-me até agora de seu olhar consolador e de uma sentença não muito otimista, mas conformada. Confesso que fiquei com medo e receio do que me aguardava. Quando as lembranças do primeiro ciclo retornam, a soma delas sempre resulta em um suspiro doce e pouco melancólico do passado. O que não se evidenciará mais a partir de então.  


(Continua...Parte 2)

Memórias - Trajetória Escolar - PARTE 2

No segundo ciclo de ensino, acabei parando na escola estadual Luiza Hidaka, que atendia alunos da 5ª a 8ª série do Ensino Fundamental II e do 1ª ao 3ª ano do Ensino Médio. A segunda escola em comparação com a anterior era um cubículo. As únicas partes arejadas eram um jardim pequeno com uma árvore e a quadra de esportes, sendo que as janelas das salas de aulas tinham grades por todas as extremidades, os corredores eram estreitos e as salas ordenadas como as de hospitais. Percebi durante esta nova experiência que as crianças não brincavam nem corriam mais, por ser inviável estruturalmente. E, além disso, algo naturalmente estava se transformando em nós, crianças: crescíamos e, junto, os nossos interesses em relação à vida escolar.

Na minha mente, quanto mais se avançam as séries, mais a memória se fragmenta. Há uma rotatividade enorme de coleguinhas, matérias, assuntos, professores, etc., e os rostos vão desaparecendo junto com as lembranças da época.  A tendência foi a de um declínio em meu rendimento escolar, as notas tornaram-se cada vez mais baixas no boletim. Não sabia por que fazia as atividades, nem como eu era avaliada, ou o que estava aprendendo. Copiava o que tinha para copiar, respondia o que tinha para responder, tudo mecanicamente. Não entendia o sistema de ensino criticamente, somente me submetia a ele. 

O contexto e o ambiente eram outros. Os professores se multiplicaram com as matérias, e sinceramente não sabia a diferença exata entre elas, embora o caderno de dez matérias tivesse essa função de organização. Havia a turminha do oitavo ano, por exemplo, que parecia madura e experiente; o grêmio escolar, que colocava música no pátio durante o intervalo e rolavam muitas paqueras. Notava-se a puberdade se desenvolvendo a flor da pele entre nós adolescentes.

Nas aulas, recordo-me de algumas histórias, de uma professora brava, que deixava a sala ficava quieta enquanto falava interminavelmente algo sobre civilizações, guerras e afins. Eu não conseguia absorver muita coisa, mesmo que fixasse profundamente meu olhar nela, infelizmente nada entrava. Tem uma lembrança que certamente me comoveu, foi a de um elogio da professora de português sobre a minha redação, me deixou confiante! Nas aulas de artes, me achava boa em desenho, entre outros trabalhos manuais, pois possuía paciência e criatividade. Fora isso, tinha algumas aulas diversificadas que usávamos cartolina ou eram em grupos, mas sem amiguinhos fixos.

Houve situações particulares que me chamaram a atenção por sua natureza estranha: a professora de geografia que pedia aos alunos para copiarem textos na lousa enquanto ficava sentada próxima à mesa fazendo nada, reclamaram dela na direção, depois nunca mais apareceu, talvez estivesse de licença-saúde. O professor de ciências que pegou uma cadeira e colocou-a na frente da sala bem no meio de todos, subiu e ficou vigiando a sala durante sua prova. Teve uma vez a professora que respondeu grosseiramente à pergunta de um aluno, e que me deixou assustada. E outra, ainda, que saiu chorando da sala e bateu a porta com toda força, depois que a maioria dos alunos não prestou atenção em sua explicação. Algo similar aconteceu com outra professora que ficava bravamente em pé esperando a sala se silenciar e se eu não me engano, a espera se prolongou durante a aula inteira.

A impressão produzida da escola que conheci lá atrás quando pequena é diferente desta última escola. Antes, tinha uma parte divertida e os pensamentos tinham tons alegres. Agora, do período que antecede o Ensino Médio, a memória falha em tecer os detalhes significativos série por série.

Durante essa fase, continuei na mesma escola, mas com a diferença de transição do horário vespertino para o matutino, isto afetaria drasticamente a minha concentração. Por exemplo, em aulas paradas ou basicamente quando o professor faltava, eu dormia, ''pescava'' e bocejava quando surgia a oportunidade.

A partir do Ensino Médio é mais perceptível o fenômeno de separação de alunos em grupinhos, cada um se comportando de um modo específico com a sua identidade. Uns são considerados nerds, outros, bagunceiros, e por aí vai. Eu, como esperado na minha timidez isolada, não me encaixava em nenhum grupo. Reservada e calada, só conseguia interagir com poucos.

Enquanto isso, um acontecimento avivou meu percurso escolar: entrei na escola técnica estadual (ETEC) para o curso de gestão ambiental, no 2º ano do Ensino Médio. Ao comparar os dois tipos de instituição, o técnico e o médio, nota-se que o primeiro era um ensino mais direcionado, com assuntos específicos e por isso era mais fácil de estudar, e aceitava alunos de diferentes idades e meios sociais. A minha turma era diversificada e esforçada, isso me deixou instigada.

Voltando ao ensino regular, um dia descobri a biblioteca e, ao longo do tempo constituí uma bela amizade com a Dona Francisca, quem cuidava dos livros e empréstimos. Foram muito valiosas as minhas idas e vindas da biblioteca, carregando alguns volumes de clássicos da literatura estrangeira ou nacional para casa, e tentando decifrá-los. Um gênero que me agradou bastante e continua desde então, foi poesia.

No ensino médio surgiram as tais apostilas do professor e aluno da Secretária de Educação do Estado de São Paulo, e matérias como Filosofia e Sociologia, das quais conseguia bom rendimento, acredito por que contavam com opções alternativas de avaliação. Além disso, não tinha tantas novidades, a lousa se enchia de textos e números, e eu enchia meu caderno também, até inventei resumos estratégicos para economizar as linhas e tempo. Achava uma tamanha bobagem copiar o que já estava escrito em livros ou textos impressos. Escrevia rápido e sinteticamente para cumprir a uma obrigação, deixando a minha letra incompreensível para os outros, e às vezes, até para mim.

 A relação entre professor e aluno na sala de aula continuava no mesmo dilema. A minha turma era indisciplinada e os professores quando não estavam nos desprezando, estavam dando broncas constantemente. Um dado importante era a ausência diária de professores. Quando faltavam, aulas conhecidas como ''vagas'' eram comuns, ou então, um professor eventual entrava para substituir, passando alguma atividade pronta ou cópia na lousa e assim, ‘’quebrava o galho’’ na aula.

As matérias que mais gostava exerceram influência positiva ao longo do meu trajeto escolar, como português e ciências, pois gostava de ler, escrever e de observar a natureza. No ensino médio, a disciplina Ciências se ramifica em Biologia, Química e Física, porém, a atração se deu por biologia. Carregava um livro didático de biologia e estudava as imagens e capítulos mesmo com certa dificuldade para entender. Até hoje ele continua guardado na minha prateleira, de vez em quando eu o folheio.

Já das matérias que me deixavam pavor de estudar era matemática. Associo todo esse horror principalmente às situações frustrantes de aprendizagem e à falta de professores, raramente compareciam às aulas. Levava as outras matérias tranquilamente através de leituras e interpretações, mas não conseguia superar as minhas deficiências em exatas. Matemática era meu bicho-papão e ainda guardo resquícios de trauma.

No último ano, contava os dias para que terminasse logo a escola, estava tão entediada e acordar cedo toda manhã era um imenso sacrifício. A preguiça me fazia faltar às aulas consideravelmente, e quando, no dia seguinte reaparecia, praticamente havia perdido quase nada de estudo. Eu dormia bastante na sala de aula, porque o ambiente me dava sono ou pouco me empolgava. Mas continuava mantendo a única atividade que me dava prazer: ler livros da biblioteca. Ademais, quando não estava na escola, estava nas aulas de inglês, ou nas de espanhol, ou nas de técnico. Foi um ano bem corrido e puxado.

O final do ano se aproximou e uma sensação de alívio tomou conta de mim. O derradeiro fim que tanto aguardava! Partiria da escola levando a  imagem de um lugar problemático e desanimador (com exceções), e cansada. Não queria mais ver aquelas cadeiras, as janelas de ferro, o barulho atordoante e toda espécie de enclausuramento que a visão alimentava.

Prestes a terminar a escola, a sociedade me pressionava para escolher uma profissão e prestar o vestibular, mesmo assim eu não tinha vontade e nem pressa para pensar nisso. O importante era estar livre e depois, com consciência e paciência poderia decidir o que fazer da minha vida.

(Continua...Parte 3)

AINDA

Ah! Mais um ano se passou
O tempo que resta pairou
E diz: "Paciência" com piedade
Gozando de toda a impunidade

Muito barulho quiçá anunciou?
O silêncio da injustiça vingou?
Bons momentos agora de partida
Levando pra si a inocência ferida

Que rio? Que árvore?
Toda a fertilidade da terra
Por aniquilação na guerra

Que direito? Que respeito?
Toda a desigualdade eminente
Pela comodidade vigente

Que ano novo? Que novidade?
Todo o avanço da modernidade
Pela perda plena de liberdade!

J.V.

07/01/2016

TIÃO

Lá se vai o trabalhador Sebastião
Depois de um dia de cão!
Está à espera do trenzão 
Misturado à multidão

Ele sente-se acolhido
Comove-se aturdido
Pois faz parte do povão
E batalha seu ganha pão!

Suspira e pensa:
''Puxa, trabalho o dia inteiro
Na volta, um aconchego parceiro!''

O trem se aproxima devagarzinho 
Ele vai se encaixando apertadinho
Todos se reúnem em volta da porta  
Inflamados, aguardam o derradeiro ato:

Abre-te....

SÉSAMO!!!

BOOOOMMMM......

(silêncio)

Tião?...Tião?...

Fundiu-se na massa invisível 
Realidade para muitos, desprezível
Viu-se um só corpo mundano
Após o louco furacão humano

Sebastião foi encontrado novamente 
Em casa já com a família finalmente
E feliz estava, sentia-se alguém

Era filho, avô, esposo e irmão
Não mais servo, escravo e peão
Sob o poder de nada e ninguém!

J.V.

27/11/16

RELÓGIO

O meu Eu está mais que convencido 
Da cegueira que pragueja a multidão
E do relógio que aprisiona a emoção

A correria pela sobrevivência do vencido
Que um dia já fora um diamante com brilho
Agora rasteja no árido solo sucumbido

Fabricaram um número de vida
Dizem que temos até hora para morrer
E outras coisas que nem pude escolher

Avisaram que há uma ordem estabelecida
Sinceramente não sei o que faço
Sou apenas um grão no espaço

Escrevi rápido para não me atrasar 
Pois não tenho tempo para pensar
Enquanto o relógio da cidade funcionar.

J.V.

21/09/15

AUTOCRÍTICA

Hoje é um dia triste
Tirei a casca 
E encarei o espelho

Fiz o que poucos fariam
Com coragem e brutalidade
Me escaneei por inteiro

Tornei-me errante?
Ignorante? 
(Choro litros)

Como não pude perceber?
Minha limitada visão
Não faz revolução!

Minha nossa! O tempo avassala
É menor a chance da alma vencer
Que a possibilidade do corpo morrer

Menina, como você parece fraca 
Sem vestir a sua casca
Olhe!! Este Ser é realmente você???

Frustrei-me ao reflexo da imagem
Havia outra armadura, fiquei sem
E olhei novamente o espelho

Imersa na consciência
Sem mentir pra eu mesma
Entreguei-me à transcendência

Uau! Fiquei maravilhada!
Há uma Deusa em mim?
Mas tão logo se foi. Ai de mim.

J.V.

27/05/19

ETERNA MENINA

Minha família sempre dizia:
Mulher que é mulher
O uso de salto alto requer
Batom que levanta o astral
Mais a calcinha fio dental

Enfeita-se
Pinta-se
Perfuma-se
Depila-se 
Senta-se, mas de pernas cruzadas ein!

Rebola, sorri e encanta
Não fala palavrão
Não fala
Acena sim ou não

Se descobrissem que mal cresci
E ainda sou uma eterna menina
Que às vezes brinca de ser adulta
Mas acha a arte da imitação chata
Pois fingir saber de tudo enjoa fácil

Além disso, é um baita sacrifício
Cá entre nós, só de pensar 
No protocolo número um
Que para ser uma "mulher"
Devo segurar meu pum!

J.V.

30/11/16

DÉJÀ VU

Dentro de mim cabem centenas de mundos
É uma inspiração nobre de não pertencimento
Sentir-se num complexo metamorfoseante
Reinventar as várias realidades
Desfazer das velhas futilidades

Não! Condeno o vazio da imutabilidade
Desprezo o nada de imaginar nunca nada!
Poderia ser um engano perceptivo grave
Se não me fossem apresentados novamente
Os mesmíssimos sonhos de séculos atrás 

E ainda querem que eu não sonhe também?!
É impossível sobreviver com um único sonho
Se diante da vida nascem insuficientes utopias

Ter uma existência previsivelmente confirmada
É igual a cumprir uma penitência conformada   
Talvez o futuro seja mesmo o passado do presente

E por incrível que pareça 
Ninguém além de mim 
Está se importando 
Com esse déjà vu sem fim.

J.V.

13/09/15

PROVOCAÇÃO

Mais de sete bilhões de seres
Reunidos em incontáveis "prazeres"
Enquanto isso, o Sol reaparece
Supera a desgraça e se esquece

No final a culpa sempre cai no outro
Esse hábito de omitir é um desgosto
Mas também esperar o que da plateia?
Rebanho vulnerável ao ataque da alcateia?

Lá se vai o Sol novamente. Belamente!
E com ele tudo o que se tem em mente
O arrependimento permanece
Nos olhares de quem desconhece

Entre nosso silêncio consensual aparente 
E o interesse individual de tanta gente
Basta um ato coletivo: queremos mudar
Esse descontentamento imperante no ar

Será que você é diferente? 
Ao ver a pobreza e injustiça 
Segue em frente, indiferente?

A sua consciência o obriga a lutar?
A sair da bolha cômoda e acordar?
Ou só vive às custas de reclamar?

J.V.

06/04/15

SOL

Ahh, um dia quem sabe eu serei o Sol?
Espero resplandecer os elementos da vida
Iluminar a obscura invisibilidade sofrida
Navegar confiante com a vista do farol

Já que o caos prefere desmantelar 
A luz que dentro de mim fica a irradiar
Persisto sempre em encontrar a claridade
Do conhecimento que traz a tranquilidade 

Então é isso! Vou ser a bola de fogo!
E deixar de ser um pirilampo radioso
Estrelar cada degrau da tortuosa escada
E nunca perder o rumo da triste estrada.

J.V.

29/11/15

DESEJO

Sim, eu queria mudar o mundo
Queria o brilho estonteante das estrelas 
No lugar das luzes opacas da cidade
Queria ser a heroína da justiça
E quem sabe a salvadora dos idiotizados?

Ahhh...

Queria a compreensão dos sentimentos
Ao invés da incisão nos ferimentos
Queria tanto a espontaneidade na ação
E não as aparências pela aprovação!

Eu queria mesmo era ver a bondade 
Queria que se enxergasse a verdade
Sim, meu ego...
Minha pretensão tola
Meus olhos cansados 

Os pensamentos a mil 
(Mudar, mudar, mudar...)
Cá entre eu e você, poesia
Ninguém nos ouviu 

Mudar o quê?
Quem é você?
Lixos nadando
Esgotos vazando
Desumanos andando

Culpa de quem?
Com certeza, de alguém
Não senhor, de ninguém

Enquanto espero o mundo mudar
Outros esperam por um lindo jaguar
Tudo bem, talvez eu mesma mude
E comece a escrever poesias de amor?!

Maassssssssssssssssss 
Eu queria taaaaaanto um mundo melhor
Que já me julgo caducando
E com os dedos calejando
A realidade batendo à minha porta
E dizendo: ''Oh fia, acorda pro mundo, vai!!''

J.V.

22/05/19

O PEQUENO URSO

Vontade de me encolher novamente
Retornar à infância é voltar a ter confiança
Não entender os problemas por ser criança
E esta forma de nostalgia me conforta

A visão quando embaixo é fonte de admiração
Acredita-se nos adultos como a pura perfeição
Afinal, como você imaginará que é só altura?
E que o cabelo branco é apenas carapuça?

Tá, viajei no passado, pois sou besta iludida
Acomodei-me e transportei-me aos desenhos
Como nos bons e velhos tempos, encantada
Assisti ao desenho Pequeno Urso a tarde inteira

Na época sequer notava a falha concepção 
Entre o discurso e o ato da contradição
O estado inabalável das coisas era a regra
Consequentemente o estado da mente

Enfim, quando se é pequenina
O mundo te abraça, carrega e balança
Você voa no ar em uma infinita dança
E sente-se segura num momento eterno

Não se tem a real dimensão 
Do quadro destrutivo da humanidade
O Pequeno Urso é a aparente verdade
E o futuro até tem direção.

J.V.

22/12/19

TREM DAS 6

Tudo é previsível
As reações, as opiniões
Os sermões e os palavrões

Não bastasse saber
Que amanhã será o ontem
Sigo andando em círculos

Consciente da eterna espera
De ver o meu próximo se elevar
Aqui mesmo, no reino da Terra!

Até aí tudo bem...
Quem manda sempre querer
Aceite estereótipos e finja ser 

Ligue o botãozinho ''Não estou''
Parta para o mundo paralelo
Sonhe com o príncipe no castelo

Gente... é tão fácil adivinhar
Esteja bonito, limpo e simpático
E o mundo inteiro vai ganhar!

O mais engraçado é compreender
Que você é uma coisiiiinha de nada
E estão ''cagando'' para o seu Ser

O Universo então...ha

Iiiiiiiii

Já cheiro outra crise de existência
Melhor voltar à realidade 
Moderna da simples subsistência. 

Partiu, trenzão!!

J.V.

05/09/19

OBJETIVIDADE

(Aos moralistas, Doutrinadores, Opressores, Conservadores, Assediadores, Dissimulados, Misóginos, Racistas, Fascistas, Homofóbicos, Xenofóbicos, Tiozinhos inconvenientes, Indivíduos insuportáveis, Fulanos arrogantes, Opinantes intrometidos, Feminicidas abomináveis e por aí vai...)

A lista é longa
Mas o recado é breve
Só uma coisa a declarar
À todos vocês:

Vão 
      À 
           M  e  r  d  a !!

J.V.

28/05/19

O FATO DA CAVERNA

Quando eu era criancinha
As luzes de mentirinha
Eram brilhantes e encantadas
E ao anoitecer elas surgiam

Luzes de propaganda
A luz da lâmpada
A luz reluzente do poste
A luz penetrante do bosque

Hoje tem luz até nos preços
Nos outdoors e nos cabelos
As luzes das telas então...
Divulgando o pregão!

As luzes eram de outro mundo
E que me perdoem as galáxias
O meu povo tem várias manias
Autoproclamam-se ''estrelas''

Agora que cresci
Tristemente percebi
Que esta "luz" usufruto da civilização
É um retardamento para a dita evolução

Luzes que cegam
Luzes que vendem
Luzes que segmentam
Luzes que só prometem
Luzes que dão dor de cabeça
Luzes que nascem obsoletas
Luzes que aprisionam
Luzes milagrosas
Luzes de Hiroshima

Mas ainda há chances de se libertar
Antes do Sol apagar
E nada restar
Para contar:
Fuja da caverna.

J.V.

07/10/19

DECLARAÇÃO

Confesso que seria um crime
Não te amar em toda plenitude
Se a matasse, primordial majestade
Sopro universal das coisas
Que mantém o pulsar da matéria

Contigo o casamento já jurei
Filhos de alma cósmica criarei
Minhas várias lágrimas à ti
Se por acaso e descaso a desprezei

Cedo todo o meu orgulho racional
Abandono todas as minhas paranoias
Só para renascer debaixo de sua aurora 
Importa-me muito que vá embora

Deixo todo o meu amor declarado
Sim, este romance é perigoso
O negócio é de palavras não se dopar
E não justificar os artifícios do pensar

É querer o prazer sofregamente
Vamos sofrer amigavelmente? 
Equilibrar nossa perpétua relação
E sentir aos poucos uma nova sensação

Jamais me perdoaria se algum dia
Em perfeita condição psíquica
Em estado puro de saúde física
Desejasse mais estar ao lado da morte
Do que gozando de ti, Vida

Com toda sinceridade lhe digo:

-Ah, como amo-te!

J.V.

14/10/14

O GRITO

Desequilibrada eu? Nãooo
Sereníssima
Só acho uma coisa:

Não, não existe
Quanta feiura por dentro
Porque sim não é resposta
De poeira cósmica à adubo
De adubo à macaxeira

Vida mentirosa da p****!
Não, e nem você está
É...o amor acaba
Boa Tarde....triste!
A tragicidade é TODA nossa

Ei! Se liga aí Futuro!
Ame-se primeiro
Pensamentos concretos
Atos telepáticos
Vai magoar a mãe, mequetrefe!

E outra coisa:

Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh....

J.V.

02/06/19

IMAGINAÇÃO

Abri a janela em extrema agonia
E pensei que a vida não mais merecia
Ser tratada com desgosto e descrença
Caiu então do céu a última sentença

Prometi a mim mesma silenciosamente
Cuidar da minha amada e única semente
Imaginei tudo de "feio" no Universo
E criei sua nova versão no inverso

Peguei cada pedaço enfadonho
Aquilo que não desejo no sonho
E como fiel idealista até o fim
Troquei o não é possível pelo sim

Consertei o olhar perdido e suicida
Colocando o da alegre endoidecida
Depois costurei o coração gelado
Ao permitir o Sol no peito pelado

Ah... as ruas? As casas? E a cidade?
Tudo ganhou o tom da felicidade!
Passarinhos voando em meio à riqueza
Da abundante e ressuscitada natureza!

O motorista cantou: ''Eu só quero um xodó...''
Enquanto o mecânico dançou o seu forró
Minha cama agora era uma nuvem
Viajando pelos mistérios do mundo

Dormindo num encanto profundo
Visitando as estações desse trem
Notei a falha limitação geocêntrica
E recuperei a visão heliocêntrica!

Hoje, se me acordassem sem motivo
Ah, mas eu juro que mataria o maldito!

J.V.

06/11/16

BONECA DE PORCELANA

Em casa já estava
Mas nada disso bastava
E num suspiro começou
Os primeiros enfeites tirou
(brincos, pulseiras, 
colares, anéis, etc.)

Os cílios postiços arrancou
Impaciente, jogou para o alto
Os sapatos de salto alto 
A calça justa de preço alto
E a blusa chique de status alto

O sutiã de bojo voou
Da calcinha se livrou
Logo após o seu rosto lavou
Uma água colorida saía
(pó, blush, corretivo, sombra,
base, lápis, rímel e batom)
E pelo ralo abaixo escorria

Cinquenta minutos matutinos
Ela passara se produzindo
E em cinco minutos se foram rapidinho

Na cama já se encontrava
Dos outros, do dia, descansava
Dela, da noite, se libertava

Dormiam todos os seus músculos 
O do sorriso ao do olhar falso
O do corpo ao do pé falso
Menos o do coração
Este se contraía tão, tão forte
Sinalizando a vida sobre a morte
E do lado de fora, só invenção (ilusão).

J.V.
19/06/18

DECLÍNIO

Criança: '' POR QUE ?''
            Jovem: '' TAlvez...''
                        Adulto: '' Sim. ''
                                       Velho: '' se !''

J.V.
Jan/2013

SOBRE OS IDIOTAS

Eles existem e estão em toda parte!
Não se engane ao cruzar com um ou cem
Nem se surpreenda ou se revolte
Tenha em mente a clara constatação
Os idiotas se reproduzem, 
E não há mais terrível conclusão:
Na sociedade estão em ascensão!

Lamentavelmente há um enorme desequilíbrio
Entre os que nascem para a vida ter um sentido
Dos que conquistam um assento na hora de pico
Mas repito: não sintas raiva! É apenas um empurrão...
Que te faz sentir-se ninguém em meio à multidão!

Um sentimento de pena vem tomar conta de mim
Porque aí também percebo que os idiotas 
Permanecerão sendo os mesmos idiotas até o fim
E não há nada a fazer! Malditas estatísticas...
Chacoalhão ou balde de água fria?
E no bumbum bofetadas? (Gargalhadas)

Cada dia que passa os idiotas se multiplicam 
A maioria não possui nem brio e dignidade
E afundam na própria lama da mediocridade 
Mas são de heróis e ídolos que os chamam
Por isso faço questão de aqui registrar:
Eles podem estar em qualquer lugar!

A melhor prevenção é não se importar
Com toda a bobagem que costumam falar
Com a desagradável imagem que representam 
E com o infeliz ambiente que nos apresentam

Apesar de tudo, da vergonha da espécie...
Há uma rara beleza na vida. 
Ahh... e ela merece!
Muita valorização 
Diante de toda a escuridão!

Sinto-a agora nesta poesia...
É maior do que qualquer pensamento,
E é onde eu encontro o meu alento.

J.V.

17/03/19

TEMPOS DIFÍCEIS

Se olhar para baixo
Tá chão sem semente
Sem mato 
E torrente

Se olhar para cima
Tá céu sem vida
Espaço 
E pássaro

Se olhar para o lado
Tá muro farpado
Grades 
E cadeado

Se olhar para trás
Tá gente com medo
Desespero 
E segredo

Se olhar para frente
Tá morte rente
Caos 
E o presente.

J.V.

18/06/18

ERA UMA VEZ

Orgulhosa que só, aparentava certa lucidez,
Tronco e bumbum alegres em plena nudez
Havia decidido deixar pra trás sua identidade
Levando consigo ideias novas de sociedade

Quando percebeu que nada a impedia, com estupor
Deixou escapar um ''dane-se''  de despudor 
Foi então que resolveu chamar a atenção 
Num estádio de futebol com gente de montão

Transbordando euforia quando lá chegou
Extraiu toda a sua força e a gritar começou
Pra todos os presentes a sua volta vociferou
Um caminhão de revoltas proclamou

Falava pro alto e bem alto indagava o achado 
Dentro de si até o não permitido era revelado
Não sobrou nada guardado!
No final, sentiu-se aliviada, 
Suspirou contente e realizada

(Segundos depois)

Ahhhhhhhhhh nãoooooooo!!!

Algo voa em sua direção 
A bola atinge em cheio o seu coração
Do nada sua cabeça é arremessada 
E os seus sonhos se espatifam no chão!

Não contaram à pobre coitadinha
Que era uma simples formiguinha
Nem sequer ouviram o que falou 
Só o gol que o Zé alguém marcou
Como se ninguém por lá passou

Seus desejos nunca alcançarão
O transformar da compreensão.

J.V.

22/09/15

ESPERANÇA

A vó Maria

Há um resquício mínimo de esperança
Mesmo que seja pra aquela gota mansa
Caída do choro da camada troposférica
Persistindo na luta pra matar toda a seca
E pra que o caráter humano não se perca

O sorriso puro confiando na crença
Da existência da bondade e que convença
Para chegar à esquina sem ser alvejado
Nem derrotado no abandono desolado

Esperança, fique bem aqui do lado 
É preciso andar pelas ruas em são estado
Como é possível ver as notícias, inabalado?
Serão anúncios de um amor que se acabou?
Esperança, eu sei que está em algum lugar
Onde quer que esteja hei de encontrar

Se quiser pode vir à noite me visitar 
Será um grande prazer contigo sonhar
Dos meus olhos sentimentos bons gerar
De minha boca palavras gentis aflorar

Mas se um dia por acaso me deixar
E toda a sua força interna for levar
Se quiser, pode vir à noite, me visitar 
Será um grande prazer contigo sonhar.

J.V.

20/01/15 


INTRÍNSECO

Queria estar satisfeita
Mas não estou...
Gostaria de me sentir ''normal''
Mas não me sinto...

No entanto
A vida...
A luz do Sol...
A flor que lá ficou... 

Na estranheza da existência
Entrego-me na certeza
Atônita com a beleza
Com medo da cruel frieza

Simplesmente 
Choro
Suplico
Quero estar contigo

Ilumine-me
Unânime
Natureza!

J.V.

20-08-08


A LUTA ÍNTIMA

A vida não é só maravilhas 
Só estou a observar
Nas coisas – decifrar
Ou talvez desacreditar...

Se estou no caminho certo? 

Não sei...

Resisto
Insisto
Provo de tudo
O nada questiono
Abismo profundo

Amarguras?
Angústias?
Ali ou aqui?

Não sei...

Quem sabe um dia descansarei
Mas até lá... continuarei 
Nesta inquietação infernal
Ai ai... esse meu Eu...

Sossega, infeliz!
Quer conflitar a si mesmo?
Danado
Olhe!
A paz chegando...

Será eterna? 

Não sei...
       
J.V.                                                                                       

  04-05-08